De pequenino se torce o pepino
30.06.11, flexbilizar ~ conciliar
Dra. Cátia Santos| Psicóloga, área de Psicologia Clínica
Hoje é dia de se falar sobre o impacto da interacção dos pais na vida da criança.
No artigo anterior dei a conhecer um pouco da importância da interacção das crianças, com os pais, para o desenvolvimento das mesmas. Tendo surgido alguma curiosidade e interesse em explorar um pouco mais as diferenças encontradas nas interacções entre as díades, esta semana dedicamos o espaço da Psicologia a um olhar mais cuidado para estas diferenças.
Revisitando um pouco o conhecimento, sabe-se que o ser humano é, por excelência um ser social. O desenvolvimento é realizado através da interacção entre o bebé e o mundo que o rodeia, mediante diferentes modalidades como o olhar, o tom de voz e a fala, assim como o contacto físico, [1] verificadas na díade pai-bebé e mãe-bebé. Mais, os estudos dizem-nos que em termos evolutivos o crescimento ao nível cerebral é intenso e extremamente rápido, até aos 18 meses de idade, sugerindo que a interacção inicial com base em diferentes tipos de padrões de estímulos seja muito relevante. [2]
A interacção em ambas as díades é semelhante em várias formas, na medida em que ambos, pai e mãe, são sensíveis às necessidades do bebé e comunicam com este de um modo suave e eficaz. [1] [3]
Desde que o bebé existe no útero, tanto ele como a mãe inserem-se num ambiente complexo de relações, que se organiza e modifica nos eventos culturais e sociais que vão acontecendo na vida de ambos. Nos primeiros anos de vida ocorrem várias mudanças significativas dentro deste padrão relacional, entre o bebé e a mãe, que mostram a clara importância da criação de uma relação de qualidade para possibilitar ao bebé um desenvolvimento ao nível da cognição, comunicação e socialização saudáveis.
Ainda que em níveis diferentes em termos qualitativos, as mães são capazes de reconhecer as necessidades, preferências e limites dos seus bebés reconhecendo, igualmente, a comunicação única do seu bebé, levando-a a ajustar o seu comportamento de acordo com todos estes aspectos. [4]
A interacção entre a “boa” mãe e o seu bebé é marcada por movimentos de carinho e proximidade emocional tal como um interesse genuíno em compreendê-lo, existindo sistematicamente uma vontade em proteger o bebé do mundo lá fora, originando uma interacção mais fusional que, tendo como base um equilíbrio e não uma necessidade excessiva de cuidado, ajuda o bebé a desenvolver as competências necessárias para interagir com os outros e aprender o verdadeiro significado de ligação e relação de amizade/amor.
Todavia, ao contrário desta necessidade de protecção da mãe, na díade pai-bebé as actividades realizadas são mais estimulantes e envolventes não existindo a contenção que as mães incutem, ou seja, os pais são mais liberais na medida em que deixam os seus filhos expressarem o que existe dentro de si e explorarem, com maior liberdade, o mundo que os rodeia. [3] [5] Assim, o pai na díade pai-bebé desempenha um papel importante de mediação, essencialmente na abertura dos filhos para o mundo, facilitando a separação do estado fusional do bebé à mãe, que se verifica até aos 12 meses, para que o bebé atinja uma maior autonomia. As brincadeiras de índole física, estabelecidas na díade pai-bebé, são importantes para a activação e, posterior, regulação da exploração do mundo, estimulando o bebé a desenvolver o risco pela novidade.
Dentro da díade pai-bebé existe, ainda, um aspecto importante a ter em conta, as diferenças na interacção consoante o género da criança. De um modo geral, os pais participam em actividades/brincadeiras mais físicas com os filhos, do sexo masculino, do que com as filhas. Deste modo os pais são os parceiros de brincadeira mais importantes para os filhos do sexo masculino. [5], [6]. Vários estudos demonstraram que a qualidade da interacção pai-bebé é mais importante do que a quantidade. Do mesmo modo, os pais têm tendência a ser mais agressivos e punitivos com os filhos do que com as filhas, recorrendo a formas mais directas de controlo. Uma das explicações possíveis para este fenómeno pode estar relacionada com o facto de existir uma rivalidade do pai em relação ao filho, sentindo o primeiro, uma necessidade de se afirmar [5].
[1] Mazet, P., & Stoleru, S. (2003). Psicopatologia do lactente e da criança pequena. Lisboa: Climepsi Editores.
[2] Zamberlan, M. (2002). Interacção mãe-criança: enfoques teóricos e implicações decorrentes de nakajaajano estudos empíricos. Estudos de Psicologia, 7 (2), 399-406.
[3] Frascarolo, F., Favez, N., & Fivaz-Depeursinge, E. (2003). Fathers’ and mothers’ performances in father-mother-baby games. European Journal of Psychology of Education, 18 (2), 101-111.
[4] Brazelton, T. & Cramer, B. (1993). A relação mais precoce: os pais, os bebés e a interacção aanklajaaajprecoce. Lisboa: Terramar.
[5] Paquette, D. (2004). Theorizing the father-child relationship: Mechanisms and developmental outcomes. Human Development, 47, 193-219
[6] Roggman, L. A. (2004). Do fathers just want to have fun? Commentary on theorizing the father-child relationship, Human Development, 47, 228-236.