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Flexibilizar para conciliar

Flexibilizar para conciliar

Regresso ao Interior

14.12.11, flexbilizar ~ conciliar

Ana Teresa Mota | Consultora de Recursos Humanos

 

O mercado de trabalho tem destas coisas. Há alturas em que parece que os empregos fogem e mudam de sítio. Provavelmente significa apenas que os empregos nas grandes cidades são poucos e que no interior ainda vão sendo alguns.

Em tempos normais, diria que encontrar trabalho no interior não é tarefa fácil.  Atualmente penso exatamente o contrário. Há vilas no centro do país, mais no interior ou mais no litoral, com emprego. Zonas industriais que vão resistindo e pequenos centros turísticos que absorvem mão de obra. Alargar as nossas buscas é suficiente para tornar maior o número de oportunidades – empresas de trabalho temporário que fazem colocações nas câmaras municipais, centro de emprego que é nacional e portanto mostra oportunidades em outras zonas, para além da nossa, jornais regionais e até as páginas de internet das câmaras municipais.

Porquê esta sugestão, num contexto de flexibilidade?

Porque me encantei por Vila de Rei, no topo do distrito de Santarém. Tem escolas excelentes e uma cidade inteira virada para crianças, uma biblioteca muito concorrida e pavilhões desportivos, tem praias fluviais e piscinas. Tem jovens e crianças a passear na rua e os supermercados ocupam metade do seu espaço com coisas para crianças. Depois conheci duas ou três famílias com crianças.Têm consolas? Roupas da moda? Telemóveis? Nem por isso. Têm quintais, têm animais de estimação, têm os pais em casa às 6 da tarde.Vão todos à missa ao domingo, sendo que o miúdo fica na catequese e depois vai brincar para o jardim no centro da vila. Sozinho, aos 6 anos. Correção, sozinho não. Vão todos, uns 10 miúdos à solta e aos gritos, com uma bola nos pés. E as mães descansadas, porque ali toda a gente olha por eles.Uma das famílias veio de Lisboa. Instalou-se há algum tempo por estas bandas e duplicou o número de filhos. Porquê? Porque aqui é fácil ter filhos. É fácil vê-los crescer felizes e saudáveis. Os serviços públicos cobrem as grandes necessidades, porque há escola e centro de saúde, porque há desporto e cultura, porque há jardins e parques. O dinheiro não será muito. Provavelmente nunca. Mas não sei se é assim tão importante. Aqui, na grande cidade, temos tudo perto. Tudo o quê? As rendas que custam 4 vezes mais do que no interior? Os centros de saúde onde não se consegue uma consulta senão com seis meses de espera? As escolas que estão a abarrotar, com professores cansados e lutas permanentes? Os transportes onde perdemos duas e três horas diárias? Os centros comerciais onde compramos o que não precisamos porque não há mais nada para fazer ao fim de semana? Ali as coisas não estão perto. Para tudo dá jeito ter carro. Confirmo. Mas sem carro também se sobrevive, em especial dentro de uma cidade. Também assisti à senhora do talho a combinar com uma velhota, uma boleia até Abrantes. As pessoas ali tomam conta umas das outras. As vizinhas partilham a rega da horta e o olho que vão deitando às ovelhas de todos.

Não estou a sugerir que as pessoas que sempre tiveram profissões de escritório, se dediquem à agricultura. Longe disso, mas há escritórios, empresas, zonas industriais, comércio, turismo.

Vai havendo emprego e para completar o salário, há sempre trabalho. Apanha da azeitona é o prato do dia até ao final do ano, mas logo a seguir há mais coisas. E dá dinheiro. Não é muito, mas dá.

Antes de considerar o triplo emprego, a economia paralela, a caridade... muito antes, vale a pena pensar em alternativas longe do cimento e do alcatrão. Onde a vida é mais simples e as crianças crescem perto dos pais. Onde o tempo é nosso aliado.