Trabalho mais do que nunca, mas tenho mais tempo para os filhos
Era editora numa revista, mas estava farta de rever textos dos outros. Quando engravidou da terceira filha, Sónia Morais Santos percebeu que não podia continuar a chegar a casa depois das 20h. Deixou o cargo de editora numa revista para se tornar jornalista freelancer. Tornou-se dona do seu tempo e garante que assim ele “estica”. E lhe dá mais tempo para as crianças. Licenciada em Ciências da Comunicação, Sónia tem 38 anos e é a autora do blogue Cocó na Fralda.
1. O que fazia antes de ser jornalista freelancer ?
Era editora executiva da revista Time Out Lisboa.
2. Quais os motivos que a levaram a tomar a decisão de deixar um emprego “certo”?
Quando a minha terceira filha estava para nascer, percebi que não podia continuar a chegar a casa às 20h e às 21h, com o meu marido. Só nos dava para deitar os filhos e nada mais. Além disso, estava absolutamente farta do trabalho de editora - ali fechada a ver os textos dos outros, ou então a fazer coisas que já não me estimulavam minimamente. Quando comecei a ficar febril ao domingo, só por pensar no regresso ao trabalho, percebi que era chegada a hora de saltar fora.
3. A mudança foi a forma que encontrou para conciliar a profissão com a vida familiar?
Também. E a conciliação foi total. Hoje trabalho consideravelmente mais do que alguma vez trabalhei, mas tenho muito mais tempo para os meus filhos. Faço uma gestão inteligente do meu tempo. E ele estica. Claro que gostava que esticasse muito mais. Mas isso gostávamos todos.
4.. Foi difícil "mudar de vida" sem a alegada segurança de um "emprego certo?
Não senti isso. Mas também tive sorte. Consegui avenças fixas e, agora, todos os sítios para os quais escrevo são avenças fixas. Ou seja: sei sempre quanto vou receber no final do mês, porque é sempre igual, e assim até parece que tenho um ordenado. A verdade é que fui abrindo portas, ao longo dos anos em que trabalhei por conta de outrém, que me permitiram ter outra estabilidade enquanto freelancer.
7. Aconselha outras famílias a fazer o mesmo? Por realização pessoal ou sobretudo pela possibilidade de conciliação trabalho/família?
Não dou conselhos desses. Acho demasiado arriscado. Porque eu saí-me bem, mas a outros pode correr mal. Acho que é preciso ter-se uma estrutura mental muito sólida para se ser freelancer, é preciso ter muita força de vontade, é preciso ser muito batalhador, muito insistente, muito organizado, disciplinado, e não cair na tentação de ficar no sofá a ver séries, nem de pijama o dia inteiro - esse é o primeiro passo para uma ruína e uma depressão anunciadas. Levanto-me todos os dias às 7.30 para despachar os miúdos, que vão para a escola, tomo banho, visto-me, pinto-me e começo a trabalhar como se tivesse um patrão a olhar-me de soslaio. E tenho: sou eu!
“Uma entrevista por mês” é a nova rubrica do blog Flexibilizar para Conciliar.
Queremos dar voz a pais e mães que conseguiram encontrar o equilíbrio entre o trabalho e a família, ou que estão a esforçar-se para lá chegar. Encontrar novas soluções ou bases para discussão que permitam atingir os objetivos do movimento é o objetivo da iniciativa.
Se vive uma experiência inspiradora neste sentido e quer partilhá-la, contacte-nos na nossa página no facebook ou deixe aqui um comentário.